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domingo, 28 de novembro de 2010

Musica


Vc quer ouvir musica??
Descobri este site de mixtapes diversos prontos, organizados por estilos de musica e com titulos bem legais como: Music that will change your life
Ah, e vc pode criar sua propria seleção de musica e postar!
AMEI!!!!
http://8tracks.com/

Aqui vc pode experimentar um pouco !!!


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Benjamin Lacombe






Através da Dedéia conheci outro ilustrador incrível: Benjamin Lacombe

Olha este filme de lançamento do livro que foi lançado em 4 de novembro. É seu primeiro pop up book, com o relançamento do livro Il Était une Fois… (Era uma vez…), com 8 contos clássicos: Pinóquio, Alice no País das Maravilhas, A bela adormecida, Peter Pan e outros.


Pop Up - Il était une fois...
Carregado por benjaminlacombeoffic. - Videos Independentes

desenhos, e o mundo dos sonhos ....








Outro dia , num encontro com amigas com direito a amigo secreto ganhei um livro de ilustração lindo! A ilustradora é uma francesa chamada Rebecca Dautremer.
Seus desenhos são incríveis! Delicados!

Rebecca Dautremer
(Se vc quiser ler um texto lindo sobre ela, clique aqui. é da época do lançamento de seu livro Princesas, cuja capa temos aqui.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Paper cuts, ou trabalho minucioso e dificil pra caramba!!!







Tenho vários posts sobre este assunto, trabalhos em papel! Adoro! Acho de uma delicadeza sem fim!
Aqui vai um trabalho que descobri há pouco tempo, da Anastassia Elias.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Pelotas









A viagem foi de 3 hs, mas valeu cada km rodado!
Os anfitriões nos receberam com café, fogo na lareira e um sorriso. Na cozinha, os famosos doces de Pelotas enfeitavam a bancada com delicadeza.
O dia estava maravilhoso e a vista que se tinha através dos panos de vidro era de tirar o fôlego! Dentro e fora, muitos encantos.
Um dia foi pouco ...

Publicado no Regional Rio Grande do Sul da Casa Claudia.
Prod Paulo Lagreca

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Seringueiro ...



CAP 25 – O seringueiro Malaquias



24.jan.2007



Malaquias já podia se considerar um seringueiro. Afinal era ele quem dava conta da estrada que lhe fora confiada pelo patrão. Já não dependia dos cuidados do seu amigo Raimundo Belarmino, o mestre que ensinara a cuidar das seringueiras.



Sentia-se livre da censura dos olhares atentos do cuidadoso Belarmino. O que ele produzisse agora seria assentado no "Borrador", o caderno de contas do patrão, para seu crédito e posterior confronto com seus débitos. Sabia que se conseguisse um bom saldo, poderia resgatar sua irmã, que ficara na distante Olinda, de quem jamais recebera qualquer notícia, mesmo tendo-se passado tantos anos. Por enquanto era apenas um sonho. Mas este sonho seria o foco da sua vida e ele não deixaria de perseguí-lo. Ele e João, seu irmão mais próximo, tinham o mesmo vigor e o mesmo propósito. Trabalhariam duro, para atingir o objetivo.



Malaquias nasceu em Recife, mas se criou no sertão. Deu seus primeiros passos ouvindo o mugido dos animais, sentindo o cheiro de fazenda. Órfão de mãe ainda muito pequeno, foi Júlia quem cuidou dos seus primeiros anos de vida. Já com cinco anos, pouco antes de deixar o sertão rumo ao Amazonas, Júlia o levava para ver a ordenha das cabras. Quando cresceu mais um pouco, sentiu que queria ser pastor. Dono de um rebanho de cabras. Era este o desejo dos meninos do sertão, dos meninos da sua idade.



Logo que entrou na floresta com o Belarmino, sentiu todos os medos do mundo. Uma reação natural de quem enfrenta o desconhecido. Aprendeu a movimentar seus pés com cuidado, para não pisar numa cobra venenosa e evitar fazer ruído nas folhas secas. Isso poderia chamar a atenção de uma onça pintada, muito comum na floresta. Muito temida pelo perigo que representava. Não eram raros os ataques a seringueiros incautos. Muitas vezes, fatais. Para se proteger dos espinhos, calçava sapatos de borracha feitos por ele mesmo. Eram pouco confortáveis, provocavam mau cheiro nos pés, mas protegiam.



Bem cedo, todas as manhãs, tomava o café magro que preparava, acomodava o peixe seco e assado na panelinha de ágata com farinha, balde para colher o leite, espingarda a tiracolo e na mão, o facão balançando ao lado do corpo. Lá se ia o garoto imberbe, solitário e silencioso, para cuidar do seu rebanho, que não era de cabras. Ia ordenhar aquelas árvores maravilhosas que produziam o leite mais caro do mundo. O leite que se transformaria em pelas de borracha, percorreria muitas léguas rio abaixo, cruzaria as fronteiras e que, em metamorfose constante, mais uma vez se transformaria nos pneumáticos daqueles aviões que permitiriam à força dos Aliados, ganhar a guerra. Mais do que isso, o leite maravilhoso que transformaria seu sonho em realidade. Bastaria trabalhar com afinco e escapar do ataque dos índios, com suas flechas envenenadas. Ou dos mosquitos, com suas agulhas afiadas, para sugar o sangue e plantar a semente da malária.



Estabeleceu um bom relacionamento com aquelas árvores, como lhe ensinou Belarmino. Já não sentia a floresta como uma grande prisão. A floresta deixou de ser aquela grande muralha verde, isolante. Parecia mais a expressão da liberdade. Com aquelas seringueiras convivia todos os dias. Visitava cada árvore, duas vezes por dia. Uma vez para sangrar. Outra para colher o leite. Cortava-as com cuidado, como lhe fora ensinado. Cuidava para não ferir o cerne. O corte seria superficial, apenas na casca da árvore. Quase um afago. A seringueira não se ressentiria disso. Seria como o cortar das unhas, para nós, seres humanos. Estabelecia-se assim um relacionamento quase simbiótico. Ele fazia o corte com cuidado, a árvore lhe retribuía com seu sangue branco, sem glóbulos vermelhos. Os anti-corpos cuidariam de sarar o ferimento superficial. Uma relação de amizade e dependência mútua. Com o passar do tempo, ele conhecia cada árvore, seus menores detalhes. A forma dos seus galhos, das raízes e tudo mais. Algumas ganharam nomes. Inspirados nas suas formas ou em alguma coisa que lhes diferenciasse das outras. Porque vivia sozinho, a maior parte do seu tempo, para não ficar mudo, falava com as árvores, dirigindo-lhes palavras carinhosas, expressando sua gratidão. Cortava-as todos os dias porque elas lhe ofereciam o leite. Ou seria o contrário? Elas lhe ofereciam o leite, por serem ordenhadas todos os dias?



Conviver com a floresta é um aprendizado permanente. Quando ele viu pela primeira vez a floresta, viu apenas uma extensa pincelada verde, horizontal, sem muita expressão, em contraste com o azul do céu distante. Trabalho de um artista desconhecido, talvez amador. Não lhe dizia muito. Depois, percebeu que não era o verde, apenas. Mas, muitas tonalidades de verde brincando com a luz do sol. Mais um pouco, e percebeu que havia árvores de diferentes tamanhos e formas. Galhos e folhas. Flores e frutos. E as lianas que assustavam, fantasiando-se de serpentes e descrevendo os mais belos movimentos nas suas curvas e formas. Tem mais. As árvores hospedam parasitas e plantas epífitas, insetos, lagartos e outras expressões de vida, formando um micro universo. Um pequeno mundo para ser descoberto. E admirado. Assim Malaquias foi se adaptando e crescendo no seu relacionamento com a selva. Seus sentidos foram aguçados. Seus ouvidos ouviam mais, seus olhos viam mais, compreendiam o que se passava na penumbra da floresta. Sabia interpretar a natureza que lhe rodeava. Quando o lodo - um tipo de alga verde - começa a se formar, é porque as águas do rio logo vão parar de subir. O senhor sapo fulano de tal parou de cantar: amanhã vai ser dia de sol. Esse conhecimento era a ferramenta do seringueiro para a sua sobrevivência na selva. Era o segredo da vida.



Antes de seguir para o seringal, Malaquias morou em Manaus, a pequena e rica cidade de 38.000 habitantes, do início do século XX, incrustada nas margens do caudaloso Rio Negro, um dos maiores rios do mundo, em termos de vazão. O único rio que conservou o nome que lhe foi dado por Francisco Orelhana, no dia 3 de Junho de 1542. Morou com a madrinha, numa casa da rua Taqueirinha, por trás do edifício Iaptec, -- acho que é assim que se chamava -- o primeiro edifício construído na cidade, muitos anos depois, 10 andares apenas. Fica perto do antigo cais da Manaus Harbour, que os índios e caboclos chamavam Manausarba. Nos poucos meses que morou na cidade, aprendeu o ofício de funilaria e freqüentou a escola.

Dono de uma memória fotográfica, privilegiada, aprendeu a ler logo depois das primeiras aulas, surpreendendo a professora e os outros alunos. Desenvolveu uma caligrafia invejável. Tinha a mão domável e a letra bonita. Dispunha sempre de uma caneta e um tinteiro. Assim poderia praticar sua escrita na floresta distante, escrever seu diário, descrever sua solidão.



Quando estava em casa, ajudava os empregados que cuidavam da casa, fazia mandados, indo à taberna para comprar alguma coisa que a madrinha deixara de comprar no mercado. A alcova do casal ficava no piso superior. O padrinho, um homem de pouca saúde, passava muito tempo por lá. Às vezes descia para ir à funilaria inspecionar os trabalhos. Raramente descia para comer na sala de jantar. Pela manhã, todos os dias, Malaquias recebia uma caneca com café sem leite e um pãozinho francês. Era esse o seu desjejum, insuficiente para as necessidades do seu corpo em desenvolvimento. Para matar a sua fome, comia alguma fruta que porventura encontrasse em alguma árvore frutífera. Todos os dias sua madrinha mandava que ele levasse uma tigela de mingau ou de sopa, para o padrinho adoentado. Todos os dias, enquanto subia as escadas de acesso ao pavimento superior, êle aproveitava para tomar um gole, antes de entregar a encomenda. Todos os dias, ao descer as escadas, êle comia o que o padrinho não consumira. Por isso êle torcia para que o padrinho não melhorasse o apetite.



Malaquias era proibido de brincar na rua com outros meninos. Mas ele, sempre que podia, dava um jeito de escapar e brincar um pouco, com seus colegas de rua. Tinha uma unica roupa bonita para frequentar a escola e de ir para a missa aos domingos. E um calcao muito grande, para o seu tamanho. Era vestido assim que ele brincava de bola, uma pelota de sernambi, sempre segurando o calcao, com uma das maos, para o calcao nao cair.



Um dia conseguiu entrar num clube. Os pais cuidavam dos seus filhos enquanto cruzavam a piscina, aprendendo a nadar. Malaquias olhava de longe, segurando o seu grande e unico calcao. Um senhor bondoso se aproximou dele, fez-lhe um afago na cabeca e o convidou a nadar. Malaquias nao se lembrava de ja ter recebido qualquer afago, qualquer demonstracao de amor e ficou muito comovido. Nao conseguiu falar, nem mesmo agradecer. Escondeu-se num canto para chorar. Sentia a falta do pai, da mae e da Julia, sua irma.



Numa página do seu diário, já no seringal e distante de Manaus, assim se expressava:



Hoje é um dia qualquer do mês de maio. Não sei que dia é. Todos os dias faço um corte num dos esteios da cabana. Um debaixo do outro. É o meu calendário. Mas às vezes me esqueço de fazer o corte. Às vezes, faço dois, porque não tenho certeza se já marquei. Então, não sei mais quando é sábado ou domingo. Estou perdido, mas continuo marcando, sempre que me lembro. Mas isso não me faz diferença. Para mim, todos os dias são iguais. Todos os dias o sol aparece no mesmo lugar. Todos os dias, se põe. Todos os dias, dia e noite se alternam. Um está sempre esperando pelo outro e não se cansam. Fazem isso há milhões de anos.



Todos os dias faço as mesmas coisas, percorro os mesmos caminhos. As seringueiras já me conhecem. Eu também as conheço todas. Deixei de me preocupar com o futuro. O meu futuro é hoje. Conheço o meu passado, mas não posso controlá-lo. Não conheço o meu futuro, mas posso interferir, com meus atos, para que possa ser melhor ou pior. Então eu vivo no meu futuro, o dia de hoje, dependente das minhas atitudes de ontem. O futuro é igual para mim e para os outros. Mas quase ninguém se apercebe disso. E ficam sempre a espera do futuro, porque é lá que está a sua felicidade. Mas o futuro deles teima em nunca chegar. Por isso nunca serão felizes. Tenho 24 horas todos os dias, que são todas minhas. Só minhas e ninguém poderá subtraí-las de mim. Posso usá-las como bem me aprouver. Todos os outros também têm suas 24 horas. Ninguém poderá ter mais. Nem o patrão, nem os poderosos, nem reis, nem rainhas. Perante o tempo, somos todos iguais.

Chove muito. É natural que seja assim, nesta época do ano. As águas sobem e vão engolindo as terras mais baixas. Os animais vão ficando confinados, por isso as restingas, nesgas de terra mais altas, são os pontos onde os animais se concentram. E é para lá que os grandes felinos se dirigem. Onça-pintada, suçuarana e maracajás. Os caçadores, também.

Hoje observei as saúbas, as formigas cortadoras de folhas. Numa fila interminável, uma atrás da outra, seguem a procissão, cada uma conduzindo seu fardo, diligentemente. A minha presença de gigante, lhes é indiferente. Apenas me ignoram e continuam suas tarefas, conduzindo a oferenda que depositarão aos pés da mãe rainha. Não se esquivam do trabalho e raramente pedem ajuda. Desta vez não eram folhas que transportavam, eram as flores amarelas de uma acácia. Acho que vai acontecer uma grande festa no formigueiro. Seria uma festa de núpcias? Não. O casamento das formigas é um grande acontecimento, mas é uma cerimônia que se realiza durante o vôo nupcial. A única vez que vão voar. Por isso se preparam para a grande festa. Seus vestidos de noiva, são as asas, a mesma indumentária que seus pretendentes usarão, uma única vez na vida.



As noivas usarão as asas mais bonitas, por isso nunca estarão tão belas. Ferormônios no ar. Os noivos estarão nervosos. Bem-te-vis e andorinhas percebem a movimentação. Onde há festa, há comida e comensais e eles serão os convidados. Falta apenas o presente que vem do céu, para a festa começar: a chuva que vai amaciar a terra. E quando a chuva cessar, miríades de participantes receberão o sinal e os nervosos nubentes alçarão o vôo para uma das mais belas manifestações do amor. Só as mais espertas voltarão à terra, escapando dos predadores. Então, depois de despir suas asas, começarão a cavar a terra macia, para estabelecerem a nova colônia e perpetuarem a espécie. Fiquei muito tempo a observá-las.



O chão é o intestino da floresta. Ali todos os dejetos, restos de frutos, folhas e restos de alimentos são digeridos. Debaixo da camada úmida e quente, sob os nossos pés e longe dos nossos olhos, desenvolvem-se bactérias, vermes, nematóides e outros micro-organismos. Uma ferrenha disputa por alimentos acontece dentro da escura camada do solo, em escala microscópica. Insetos e lagartos também fazem parte deste vasto batalhão de seres famintos.



Olho para o lago e vejo suas margens emolduradas pelo verde do arroz silvestre. Um verde-claro em contraste com o verde-escuro da mata de igapó, adjacente. Quando as águas baixaram, expuseram suas margens ao sol. As sementes de arroz silvestre, do ano anterior, estavam lá, esperando pacientes, pela oportunidade de germinar. Germinaram e começaram a crescer. As águas começaram a subir, atingiram a plantação e tentou afogá-la. Esta reagiu e começou a crescer na mesma velocidade que a água crescia. Às vezes, 20 centímetros por dia. Mas um dia, quando estiver madura, vai perder a corrida e para não se afogar, suas raízes se desprenderão do solo lamacento e flutuará. Uma ilha flutuante de capim arroz, errante, peregrinará pelo lago, ao sabor do vento. Suas sementes alimentarão patos e marrecos antes da ilha se desintegrar e desaparecer na vastidão do lago. As sementes que sobrarem, serão dispersas e esperarão, pacientemente, pelo próximo verão, escondidas e protegidas pelas águas do Lago de Coari. E o ciclo se repetirá, como vem fazendo ao longo dos séculos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

mais verde ....




Cap 22 do Livro: Verde Profundo de Miguel Rocha

08.03.07

Forró no seringal



Era costume dos ingleses fazer festa nos clubes chiques de Recife. Depois de certa hora, a festa antes reservada, agora seria para todos - “for all” - ou forrol e posteriormente, apenas forró. Os seringais também tinham os seus forrós. Geralmente aconteciam durante a celebração do dia do santo padroeiro do lugar.



João e Malaquias foram a uma destas festas animadas por uma sanfona, um cavaquinho e um pandeiro. E o rabo de cão, que é um bastão com vários pedaços redondos de folha de flandres, atravessados por um prego que as fixam no tôpo do bastão, como se fossem moedas, uma em cima da outra e que giram em torno do prego, livremente. Na extremidade inferior, um pedaço de sernambi amortece as batidas no chão. As moedas se chocam. Marcam o compasso. O salão ficava cheio de gente, mulheres velhas, mulheres casadas e as poucas ainda solteiras, apenas adolecentes. As mais velhas já estavam todas casadas. No grande terreiro havia bancas vendendo refrescos, doces e produtos do milho. E cachaça.



Os irmãos não sabiam dançar e nem tinham muito interesse nisso. Mas estavam lá, para se encontrar com os conhecidos. Por isso se acomodaram nos bancos de madeira dispostos ao longo das paredes internas do salão. Não podiam conversar, por causa do barulho da música. Ou se comunicavam falando muito alto, para se fazerem ouvidos.



Em dado momento uma moça bonita convidou o Malaquias para dançar. Era a mulher do Dé, filho do seu De Lucas. Dé corninho era como todos o chamavam, quando êle não estava por perto. Malaquias disse que não sabia dançar, mas ela insistiu, disse que lhe ensinaria e ele concordou. Rodopiou, desajeitado, pelo salão apinhado de dançarinos. Alguns dançavam com outros homens, por falta de damas. Malaquias já estava suado, como todo mundo, e até gostando daquela experiência. Era a primeira vez que dançava. Sua dama era animada e desinibida. Cheirava a sabonete importado e a perfume Royal Briar.



Num dado momento, deu uma rodada. Quando parou, sentiu algo contundente espetando seu flanco, logo abaixo das costelas. Olhou de lado e sentiu o bafo de cachaça de um bêbado lhe salpicando cuspe no rosto enquanto lhe falava ao pé do ouvido: “dança direitinho com ela, senão tu vai dançar comigo.” E aliviou a pressão da ponta da faca, ainda na bainha e seguiu dançando com sua dama.



Malaquias ficou apavorado e quis parar. A moça insistiu:

n Liga não. Ele tá bêbado. É meu irmão.

n É, eu sei que êle é inocente. Mas pra mim, já chega.





E voltou a sentar-se ao lado do irmão que nada percebera. Logo depois houve um começo de arruaça. O patrão parou a música e ameaçou botar no tronco, qualquer arruaceiro que quebrasse o encanto da festa. E avisou: “ tem formiga mossoró, no tronco.” E passeou pelo salão exibindo a pança, soltando baforadas do seu charuto cubano. Sempre acompanhado de puxa-sacos e capangas, era êle o todo poderoso que fazia e desfazia. Decidia o destino daqueles pobres mulambos de seres humanos, enquanto libras esterllinas caiam em cascata, na sua conta bancária em Manaus. No porto do barracão, os paquetes aportavam cheios de mercadoria contida em caixotes onde se liam as iniciais do seu nome, e o nome do seringal.



Tudo aconteceu por causa da Bita, a mulher do Dé, o filho do seu Dé Lucas. Ela era a mulata fogosa para onde todos os olhares masculinos convergiam. E o zeloso olhar das mulheres casadas que pressentiam seus ninhos sob ameaça. Não se podia botar defeito nela. Seu vestido de chita, solto em volta do seu corpo farto de curvas, seios atrevidos e bumbum arrebitado, deixavam os homens babando. Todos sabiam que ela não era o tipo de flor que se cheira, mas todos queriam dormir com ela. Inclusive o patrão. Êle também gostava de flores silvestres.



A banda parou de tocar. Agora dava para as pessoas se ouvirem. Quando a Bita cruzou o salão, uma mulher beliscou o braço do marido. Um aviso para êle saber que ela estava atenta aos seus olhares indiscretos. Enquanto èle olhava as mulheres do salão, ela policiava os seus olhares. A mulher que estava ao lado, comentou: os homens não prestam. São todos assim. Quando vêem um rabo de saia, se derretem todos.



Um professor, visitante que chegou do Rio de Janeiro, convidado do patrão, que estava sentado ao lado, retrucou: É o instinto masculino. Sempre foi assim desde todos os tempos. Os machos, de todo o reino animal, na sua maioria absoluta, estão sempre procurando um terreno fértil para plantar a sua semente e assim, garantir a perpetuação da espécie. O homem sobreviveu aos animais pré-históricos e a todas as provações e catástrofes, graças a esse instinto. É por isso que hoje estamos aqui.

Em toda história de amor tem pecado. E é por isso que existe o perdão, complementou.



A mulher que falara, não respondeu. Ficou só olhando aquele homem bizarro, de barba e grandes bigodes, que falava aquelas coisas extranhas, pouco compreensíveis para ela. Mas aquele homem era professor, ela o sabia. Então, apenas afirmou com a cabeça, dizendo que concordava. Mas continuava pensando como antes.



Quando a patroa viajava para Manaus, o patrão convidava a mulher do Dé para ajudar nas tarefas da cozinha do barracão. O Dé ajudava nas outras tarefas da casa e não demonstrava qualquer traço de ciúmes da mulher, pois sabia que o patrão cuidava bem dela e a êle, concedia sempre as tarefas mais leves. O patrão era bom com êle. Bita lhe dava sorte. Muita sorte.



O Dé sabia que sua mulher comia capim do outro lado da cerca, mas era apaixonado por ela. Doente por ela. Perdoava-lhe todos os pecados. Toda história de amor tem pecado e tem perdão, como dissera o professor. Além do mais, se êle brigasse com ela, ela iria embora, cairia nos braços de outro e era êle quem iria dormir sòzinho. E mais: ela o dominava completamente. Êle era enfeitiçado por ela e ela o mantinha sob o cabresto de rédeas curtas. Pintava e bordava com êle.



Consta que numa destas noites de forró, houve uma grande arruaça. Por causa da Bita, é claro. O patrão chegou e botou as coisas em ordem, os brigões amarrados ao tronco. Nas festas do interior, nos seringais, os personagens eram homens rudes e valentes, acostumados com a violência. Nao tinham medo de matar. Não tinham medo de morrer. Não pensavam nas consequencias de um crime. Por isso tudo, mais a influência do alcool ingerido, surgiam os conflitos. Pelas mulheres os homens matavam e morriam. E não eram raros esfaqueamentos e homicídios. Era bastante comum alguem perder a vida nestas festas e seus familiares voltarem pra casa, de luto, chorando a perda.

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A patroa viajara, por isso o patrão botou a Bita de castigo na sua alcova, com colcha de cetin e lençois macios, de algodão do Egito, e trancou a porta por dentro. Só sairia de lá no dia seguinte, quando as coisas estivessem absolutamente calmas. O Dé dormiu no banco de madeira, montando guarda, bem perto da porta, do lado de fora. Chegou até ouvir algum barulho suspeito, suspiros, talvez.. Mas sabia que o bom patrão estava apenas dando bons conselhos para sua nega. Não podia ser diferente. Era por tudo isso, lhe chamavam de Dé Corninho.



Era no tronco, à semelhança do pelourinho, em Salvador da Bahia, onde ficavam amarrados os desordeiros.

Um pouco de melaço pincelado nas pernas, animaria as formigas e aumentaria o castigo do infeliz condenado. Porém a festa transcorreu sem mais alvoroço. E quando o dia vinha raiando, liberados os presos, agora humildes, com seus corpos empolados pelas picadas de formigas, cada um ia caminhando para a sua canoa para seguir remando para sua casa. Os bêbados, caídos pelo chão, davam trabalho aos seus parceiros. Mas o dia seguinte era domingo, podiam descansar. E quando chegasse a segunda-feira, todos estariam em suas colocações, labutando as suas tarefas e pensando na Bita.



Malaquias ouviu muitas histórias da Bita e soube o por quê da alcunha do Dé. A mulata não lhe saia da cabeça, mas sabia que não podia se apaixonar por ela. Ela era casada com o infeliz – ou feliz? – Dé. Sua amada devia estar em algum lugar. Um dia haveria de encontrtá-la. Naquela noite sonhou dançando com a Bita, que descera do céu, grandiosa e bela. Depois o Dé chegou e tomou-lhe a dama. E saiu dançando, rodopiando com a linda Bita que, como êle, também viera lá do nordeste. Mas ela veio só para enfeitiçar os homens do seringal. No sonho, logo era a Bita, descalça, quem dominava o “show”, conduzindo seu par. O Dé se transformava em minotauro.Que sonho estranho! Bita, com seus longos braços erguidos, segurando-o pelas mãos, nas pontas do dedos, que logo se transformavam nas pontas dos chifres de um touro “long horn”. Gingava para lá e para cá, conduzindo-o, no rítimo imposto pelo animado sanfoneiro, no meio da roda animada, formada por suados seringueiros e mulheres presentes, todos batendo palma, acompanhando o rítimo, à luz minguada do farol a querosene, enquanto se ouvia o desarrolhar de garrafas e o tilintar de copos.



Bita conhecia bem os seus poderes. Por causa de ciúmes Dé já ensaiara separação várias vezes, mas logo voltava rastejando, mendigando amor, pedindo para ficar. E cada vez a bondosa Bita lhe concedia o perdão. Tinha pena dele. E para êle, com o pêso dos chifres na cabeça, e o ciúme corroendo por dentro, a vida era um inferno. Mas era entre os braços e pernas da Bita que êle encontrava o céu e a única razão pra viver. Bita era, ao mesmo tempo, céu e inferno. A mulher que lhe concedia o colo onde repousava a cabeça para dormir e sonhar. Bita era o sol. O centro de um sistema onde os homens eram os planetas que orbitavam, gravitando ao seu redor. E o seringueiro Dé era o planeta mais próximo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O verde Profundo




Desta viagem que fiz a Amazonia, conheci o Miguel, um senhor cheio de prosa que adora contar histórias e sabe muito de floresta, afinal é um caboclo!
Vou postar aqui, alguns capítulos do livro que ele está escrevendo pra ficramos com água na boca!
Além de escrever ele faz expedições por dentro da floresta com seu barco, levando chineses, japoneses, suiços e outros cidadãos do mundo interessados em conhecer as belezas de nossa floresta.





"O Verde Profundo

por miguel rocha



Prologo





Cedo aprendi que quem tem uma história bonita para contar, sempre vai ter alguém para escutar.



Esta e a história da minha família. Começa em 1874, com a chegada do meu avô ao Brasil, procedente de Portugal, com 25 anos de idade. Estabeleceu-se em Recife e, do casamento com Rosa Pimentel Pêgo, nasceram 3 filhos e uma filha. Mudaram-se para Icó, sertão do Ceará, tornando-se fazendeiros. Foram duramente castigados pela seca que durou muitos anos, naquele final do século XIX. Morreram as plantas, os animais, o rio e o poço. Meu avô resistiu. Então morreu minha avó. Vencido, meu avô escolheu os seringais do Amazonas como a Terra da Promissão. Confiou Júlia, sua única filha, aos cuidados das freiras do mosteiro de Olinda. Com os três filhos, ainda pequenos, José Maria, o mais velho, João Maria e o caçula, Malaquias, 4 anos, seguiu para o distante El Dorado. Ficaria rico com os negócios da borracha e voltaria para buscar Júlia.



A travessia do sertão até Fortaleza, a pé e em lombo de burro, durou 34 dias de incertezas e sofrimentos. A sede e a fome foram companheiras sempre presentes. Viajando de navio até Belém, aí permaneceu a espera de outro navio que o conduziria a Santarem. Havia poucos barcos e muitos aventureiros que se destinavam ao Amazonas, todos com o mesmo sonho de enriquecimento fácil.



O Canal de Panamá estava sendo concluído, dispensando empregados, na sua maioria

Caribenhos, somando-se estes ao contingente que fugia do sertão, para se aglomerar nas praças de Belém, à espera de um transporte para Manaus ou de uma vaga no quarto de um hotel. Havia ainda os procedentes de outros países, comerciantes, aventureiros e funcionários do governo. Belém não dispunha de hoteis suficientes, dificultando a vida dos emigrantes. Uma recente epidemia de cólera, já dominada, ainda estava presente no medo estampado no rosto de cada pessoa.



Depois de uma jornada que durou muitos meses, finalmente meu avô se estabeleceu em Coari, no rio Solimões. Cometeu um crime ao revidar uma agressão e fugiu para Manaus, remando nove dias numa canoa desobediente, que recusava seus comandos. Enfrentou os mosquitos, os raios do sol tropical inclemente, tempestades e o mêdo de ser prêso pela polícia. Chegou a Manaus e, sob a proteção dos conterraneos, seguiu para Portugal, de onde nunca voltaria.



Júlia foi esquecida em Olinda. Os meninos, abandonados, tiveram que sobreviver na floresta. Paradoxalmente, o mesmo rio que os livrou da morte pela sêde, muitos anos depois, cobrou seu tributo: José Maria morreu afogado, quando uma tempestade o surpreendeu na sua canoa, atravessando o lago de Coari.



Hoje, 26 de dezembro de 2008, olhando o mapa da região de Coari, leio a denominação de uma propriedade rural: Fazenda Santa Rosa . Suponho ser esta a homenagem póstuma do meu avô à sua amada mulher, sepultada no sertão do Ceará.



Enfim, a minha história tem fantasías mas está sempre com suas bases sobre a verdade e fatos ocorridos nos seringais e na vida dos ribeirinhos dos rios da Amazonia. Cada capitulo e fruto que demorou amadurecer, muitas vezes revisado.O livro que transporta meus personagens e o mesmo barco que transporta meus leitores, numa jornada em todo o rio Amazonas, sentindo o cheiro de vapor dos cansados motores primitivos e observando, do convés, as pinceladas do verde da mata que desfila nas margens do grande rio, a mais de 100 anos atrás. Sua carga, sonhos e homens miseráveis cheios de esperança.



Sejam bem vindos a bordo deste livro. E me perdoem se, no final da viagem, descobrirem ter desperdiçado seu tempo.



Meu nome e Miguel Rocha da Silva, filho mais novo de uma grande família. Não cheguei a conhecer todos os meus irmãos, pois muitos morreram antes de eu nascer.

Nasci no planeta terra. Nasci no meio da Selva Amazônica. Nasci no seio de uma família pobre. Eu não escolhi. Não tive chance de escolha. Mas se tivesse, essa seria a minha preferência. O meu destino acertou .O meu planeta e o mais bonito do sistema solar. O lago do Manaquiri, onde nasci, e o mais bonito do Amazonas. A família que me concebeu, não poderia ser mais nobre na sua conduta e no seu carater, do que muito me orgulho. As ondas do rio embalaram a canoa que me serviu de berço, enquanto minha mãe lavava a roupa nas

suas margens. O canto dos macacos guariba, mesclado com mil sons do canto dos passarinhos, me induziram ao sono, debaixo dos galhos da árvore que me amparava com sua sombra. Eu e os meus irmãos, todos, vivemos a maior parte das nossas vidas no ventre da Floresta Amazônica. E por isso que meu sangue e verde. Tem o cheiro da clorofila.



Nasci em 1940, no ultimo dia do mês de outubro. Por isso sou do signo de escorpião, sendo o ultimo filho da grande família Malaquias. Trabalhei na indústria e no comércio e, a partir de 1981 começei a liderar expedições nos mais remotos lugares da nossa região. Meu primeiro barco – Anaconda - tomou parte na expedição de Jacques-Custeau durante 18 meses. Organizei e fiz parte da Blakexpedition que infelizmente terminou em tragédia, em Macapá, onde Sir Peter Blake foi assassinado por piratas no dia 5 de dezembro de 2001. Eu havia deixado a expedição 3 dias antes, dia 2 de dezembro. Participei da logistica da produção de varios filmes, incluindo-se o longa metragem Amazon Abyss, da BBC, exibido na Inglaterra em 2005, com grande sucesso e posteriormente exibido no Brasil pelo canal Animal Planet. Porem, a mais difícil aventura, talvez meu maior desafio, tenha sido dar suporte logístico ao maratonista esloveno, Martin Strel, quatro vezes mencionado no Guiness Book. Nadou toda a extensão do Rio Amazonas, desde Athalaya, no Peru, até Belém do Pará, no Brasil. O filme dessa aventura – Big River Man - foi lançado em Nova York em novembro de 2009, nos Estados Unidos. O correspondente livro, The Man Who Swam The Amazon , foi publicado no final de 2007.



O Verde Profundo, alem de preservar a historia da família, denuncia a forma desprotegida da vida dos “Caboclos, o desconhecido Povo da Floresta”. E tem como objetivo ganhar dinheiro e transformá-lo em árvores plantadas em áreas de reflorestamento, através da Fundação Almerinda Malaquias, estabelecida em Novo Airão. Almerinda era o nome da minha mãe, a cabocla que Malaquias, meu pai, escolheu como esposa. Ela jamais aprendeu a ler ou escrever. Gerou 18 filhos, ai incluídos dois abortos, sendo eu o último e o único dos filhos homens a ter acesso à escola. Casaram-se em Coari, em 1911. Meus pais viveram juntos toda vida e construíram nosso lar com uma solida base moral para seus filhos. Minha mãe faleceu em 1960. Meu pai, em 1967. O nome da fundação e uma homenagem póstuma a eles e a busca de uma resposta para os meus anseios: ate quando estes povos da floresta serão ignorados?



Ao escrever este livro, sabia estar pisando no terreno escorregadio dos escritores, palco onde jamais tinha posto meus pés. Mas como posso contar minhas historias verbalmente, por que não as posso contar por escrito? Então comecei a escrever, contando com o incentivo de muitos amigos.



Quando ainda menino, vim para Manaus, para estudar. Minha prima Alba Rocha foi minha protetora e meu Anjo da Guarda. Cuidou de mim com se fora seu próprio filho.O filho que jamais concebeu, pois dedicou-se a carreira religiosa, tornando-se freira. Seus pais, Maria e João Rocha, meus tios, me deram abrigo e a atenção de que precisava, como crianca.



Quando chegou o meu primeiro Natal na cidade, botei o meu primeiro sapato debaixo da rede e na manhã seguinte descobri que nada de presente havia dentro dele. Era mesmo verdade o que eu ouvira de outro menino: Papai Noel não gosta de meninos pobres. Principalmente se seus pais estiverem desempregados.



Depois estudei no Seminário São Jose, espécie de mosteiro dirigido por padres Salesianos. O reitor era um alemão, Padre Hernan Schilp. Havia padres estrangeiros e brasileiros. O Padre Eduardo Lagorio, italiano, foi meu professor de geografia e de latim e terminou seus dias no Alto Rio Negro, envolvido na catequese dos índios da região de São Gabriel da Cachoeira.



Nas aulas de catecismo e religião, aprendi sobre um Deus todo poderoso, generoso e também vingativo, que pune os pecados com rigor, sendo o inferno a maior punição. A religião condena a idolatria, mas reverencia imagens de santos, feitas de madeira, e sai com elas em procissão, pelas ruas das cidades. Diz que comer e beber, para matar a fome e a sede, não e pecado. Mas comer muito é pecado. Aprendi que só o arrependimento e a confissão nos podem redimir.



Quando jovem, trabalhei como auxiliar de carpinteiro naval, tradição da família Malaquias. Mas a mecânica de motores a explosão foi uma paixão a qual me dediquei, durante algum tempo, para ganhar dinheiro e ajudar nas necessidades de casa . Finalmente fiz o Serviço Militar em Manaus e em Belém do Para. Quando voltei a Manaus, minha mãe tinha falecido na minha ausência. Foi muito triste voltar para a pequena casa de dois compartimentos onde apenas eu, meu pai e minha mãe morávamos. Era uma das casas mais pobres e na ultima rua do Bairro da Gloria.



Entrei em casa sabendo que não encontraria minha mãe. Um grande vazio me acompanhava naquele momento. Meu pai me aguardava. Abracei-o e recebi sua bencão. Foi um momento tenso, de muita emoção. Quase não falamos, apenas nos abraçamos. A cama da minha mãe estava vazia. O lençol que eu lhe oferecera de presente, agora inútil, repousava sobre uma prateleira a espera de um destino.



Numa noite de domingo fui a missa na igreja de Nossa Senhora da Gloria. Conheci a garota mais bonita do bairro. Morava na rua principal. Era filha de oficial do exercito e eu era apenas um simples cabo, esperando promoção para sargento. Ela morava num lugar privilegiado da Avenida Eurico Dutra. Eu, na ultima e quase inacessível rua, cheia de buracos. Ela, filha de oficial militar. Eu, apenas filho de um obscuro seringueiro. Adélia bem que poderia escolher o jovem mais bonito do lugar, filho de alguém com uma boa conta bancária. Mas me fez uma concessão: deixou que me apaixonasse por ela. Depois de dois anos de namoro, decidimos casar, embora não conhecesse a dimensão do meu amor, nem tivesse muita certeza do que era aquilo que sentia por mim. Mas eu prometi conquistá-la e ainda continuo tentando.



Entramos no casamento como quem entra num barco a navegar pelo Rio Amazonas. Sabíamos que suas águas nem sempre são calmas. Mas prometemos não abandonar o barco quando chegassem as borrascas. Nuvens escuras surgiram no horizonte, nuvens negras pairaram sobre nossas cabeças, mas não abandonamos o barco. Procuramos abrigos e esperamos as tempestades passarem e que o rio voltasse ao bom humor.



Seu pai havia morrido no mesmo ano do óbito da minha mãe. E quando casamos, me tornei membro de uma família especial. Antonieta, minha sogra, viúva precoce, mulher muito bonita, optou por se manter viúva o resto da vida. Preferiu dedicar-se aos cuidados com os filhos. Pessoa generosa, sem nenhum defeito, não poderia ser melhor. Meus cunhados, Marival, Marimar e Murilo, este ainda muito criança, me aceitaram de bom grado e formamos uma nova família, vinculados por uma amizade duradoura.



Em dezembro de 2009 completei 48 anos de casado. Casei apenas duas vezes. Com a mesma mulher. Uma vez no Cartório, pela lei dos homens. Outra vez na Igreja Católica, pela lei de Deus. Do nosso casamento nasceram três filhas e um filho. Márcia, Mauro, Mara Monica e Marta, conforme a ordem de nascimento. Todos nos encheram de alegria e foram recebidos como as bênçãos que todos os casais gostariam de receber. O Mauro chegou no Dia de Natal. Um presente de Papai Noel, que finalmente se lembrou de mim, mesmo sem que eu tenha posto o meu sapato debaixo da cama.



Fomos premiados, pois todos nossos filhos nasceram sãos de corpo e de mente. São filhos carinhosos, sempre presentes nas nossas vidas, enchendo-nos de atenções, preocupados com o nosso bem estar."

amanhã posto mais .....

nas aguas

Fui a Manaus em junho com minha mãe. Há mais de 40 anos ela não voltava pra sua terra... Foi emocionante!
Claro que aproveitei para fazer passeios pela floresta, e este vídeo foi um pequeno pedaço de um passeio incrível que eu pude experimentar!
Com o motor desligado e o barquinho deslizando, ouvindo um barulhinho gostoso de água e uns sons de floresta, toda a imensidão das árvores pra cima e saber que tinham no mínimo 3 metros de caules de árvores pra baixo da água, me levaram a uma sensação de pequenez e ao mesmo tempo paz e felicidade por estar ali.
Bom passeio!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Entrevista


Acabou de entrar no ar uma entrevista que dei para o site Casa da Valentina, um blog de decoração muito bacana.
Aqui vai:

CV- No seu site há uma frase linda do Ansel Adams que traduz um pouco a influência do olhar e da vida do fotógrafo no ato de fotografar, vimos lá também que sua formação é em publicidade. Olhando para trás quais influências e experiências mais pontuam suas fotos?

EM- Desde pequena recortava fotos e guardava numa caixa, as imagens não tinham um tema especifico, eram escolhidas pela beleza da composição e da luz. Lembro que no jornal saiam cadernos especiais com fotos, e quando saiu Sebastião Salgado me apaixonei. Na faculdade tive contato com muitos textos, descobri músicos alternativos (Laurie Anderson, Philip Glass, Sugar Cubes), o cinema alternativo e o mundo foi se abrindo. Comprei minha 1ª câmera, uma Pentax K1000 e comecei sem querer, sem saber. Fiz eventos, personagens, gastronomia, turismo e paisagismo, aprendendo e experimentando. Isso tudo me moldou e direcionou meu olhar. A fotografia de interiores, de arquitetura e de paisagismo deve seduzir, incitar o espectador a estar naquele local, transmitir sensações, sugerir. O meu desafio é sempre deixar espaço para a imaginação, convidar o espectador a entrar na foto.

CV - Seu portfólio tem casas de diversos estilos. Como treinar o olhar para reconhecer o potencial de ambientes aparentemente corriqueiros?

EM -Nem todas as casas que fotografo são incríveis, mas sempre procuro algo que me chame atenção, como peças usadas de um modo novo, composições interessantes de objetos, e principalmente detalhes, pormenores. É como se voltasse no tempo e novamente recortasse, só que agora de um momento real, algo para ser olhado em destaque. Além disso, trabalho quase sempre com produtores, trocando idéias e enriquecendo o trabalho, onde cada um faz sua parte a fim de alcançar um resultado desejado.

CV- Já que vc lida diariamente com arquitetura e decoração há um estilo que mais te agrade?

EM- O que mais gosto numa casa é sua alma, quando na mescla de objetos e móveis usados um pouco da história da pessoa, seus gostos, interesses. Independente de ser clássico, contemporâneo, retrô, oriental, o morador tem que estar presente na decoração, deixar seus sinais. Do contrário a casa vira um cenário. Deveríamos mudar a forma de ver a casa como algo finalizado e imutável, deixar um pouco de lado a perfeição e procurar o conforto e bem estar, interagir com os espaços, colocar alma em nossas casas. A fotografia me possibilita entrar nestes mini mundos e satisfaz minha vontade de ter várias casas, cada uma com estilos diferentes. Casas contemporâneas com linhas retas e limpas, as modernistas de concreto, orgânicas, as casinhas de vila - fofas e miúdas – os lofts amplos, de estilo industrial, tudo isso me agrada muito. É como um jardim, exuberância e rebeldia dos tropical são maravilhosas, mas o clássico francês todo recortado e simétrico me encanta.

CV: Quais arquitetos e/ou decoradores convidaria para desenhar sua casa?

EM: Aqui no Brasil existem muitos profissionais consagrados que eu gosto como Marcelo Rosenbaum, Marcio Kogan, Isay Weinfeld, Bernardes & Jacobsen e uma nova leva de profissionais que propõe um novo jeito de morar, como Guto Requena, Triptique, Alan Chu e outros.

CV- Em quais fontes bebe?

EM- Gosto de experimentar novos olhares, gosto do desafio. Quando você trabalha muito tempo com uma coisa precisa estar atento para seu olhar não se viciar em “fórmulas” e acabar repetindo sempre a mesma foto. Me alimento de imagens. Museus, cinema, pintura, escultura, fotografias, livros, revistas, blogs, sites, tudo é referencia e conteúdo.
Sites que eu gosto de ver: Renzopiano, Cool Hunter, Yatzer, Suppose, Dezeen, Joon jung, The Selby, Vewd, Inmotion, Flak Photo. Amo as fotos de Cartier Bresson, as cores de Steve Mc Curry, os móbiles de Calder, a Art Nouveau, o prédio do Museu Iberê Camargo, o MOMA, as formas e cores dos prédios do Artacho Jurado. Filmes que são um delírio visual: Sonhos, Herói, Single Man.

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